A já histórica primeira edição da Bienal das Amazônias, exposição de arte contemporânea com curadoria de Sandra Benites, Keyna Eleison, Flávya Mutran e Vânia Leal que reuniu a produção de 120 artistas de países da Pan-Amazônia e dos sete estados da Amazônia brasileira aconteceu em Belém do Pará em 2023.

Enguio é um podcast que foi criado especialmente no âmbito da Bienal da Amazônias e traz, desde seu nome, atravessamentos do momento histórico e político daquele momento. “Enguio” é uma expressão típica de Belém e quer dizer embrulho no estômago, uma mensagem de mal estar antes do vômito. Partimos dessa sensação para falar das Amazônias desexotizadas, plurais e o que é fundamental – em primeira pessoa.

Como dar conta de descrever um território tão grande geográfica e culturalmente? A pluralidade étnica e a imensidão das paisagens não cabem na simples descrição da nossa fisionomia. É uma complexidade de memórias corporais e artísticas que pulsam autenticidade apesar da exploração, tanto do chão como da gente. Com Byxa do Mato (PA-BRA), Júlia Martins (MA-BRA) e Márcia Kambeba (AM-BRA).

Os rios escuros e barrentos da nossa terra guardam mistérios da imaginação de um povo ribeirinho que não conseguia alcançar, com os olhos, a profundidade e dimensão daquele fundo – mas que podia acessá-lo por meio da imaginação e sensibilidade, inclusive artística. Com Brus Rubio (PERU), Iris da Selva (PA-BRA) e Wilka Sales (MA-BRA).

A força ancestral da Amazônia não é estática e, muito menos, está presa no tempo passado. Ela se atualiza, preparando no presente a ancestralidade do amanhã. É ancestralidade viva e pulsante nas diversas manifestações de vida que se conectam com os fundamentos de origem do nosso território. Com Auá Mendes (AM-BR), Clara Best (PERU) e Mãe Rosa de Luyara (PABRA).

Para além das disputas pelo território físico, a ganância pela posse busca desapropriar narrativas, memórias, saberes e valores da relação íntima e preciosa construída há séculos pelas comunidades indígenas e o local onde vivem. Com Fernanda Vera Cruz (PA-BRA), Rosilene Cordeiro (PA-BRA) e Ubiratan Suruí (RO-BRA).

Existe uma Amazônia, para além da exotificação, com complexidades e problemáticas pertencente aos grandes centros urbanos. A cidade é uma floresta cimentada, com ruas de rios aterrados. A imposição dos blocos de concretos em favor da exploração dos recursos naturais deixou feridas abertas, nunca cicatrizadas. Com BorBlue (PA-BRA), Luli (PA-BRA) e Nau Vegar (AP-BRA).

O que hoje chamamos de Amazônia é fruto de um tensionamento entre o projeto de colonização e a resistência da natureza e do povo que a defende, muitas vezes, com sua própria vida. É preciso retomar o projeto inicial pensado pelos ancestrais desse chão e devolver a autoridade a quem, por séculos, trava batalhas para preservação dos saberes e da terra que habitamos. Com Gabriela Luz (PA-BRA), Nazaré Pereira (AC-BRA) e Zélia Amador de Deus (PA-BRA).

Conceito: Debora Pill, Pesquisa: Debora Oliveira, Flores Astrais, Texto e apresentação: Flores Astrais, Roteiro: Claudia Rocha, Entrevistas: Claudia Rocha, Flores Astrais, Trilha sonora original: Luisa Puterman, Edição e sonorização: Alejandra Luciani, Produção: Debora Oliveira e Pâmela Carneiro